The Elder Scrolls VI um dia vai sair, e inevitavelmente será uma decepção

Vander Felipe Ortiz Dos Santos
4 min readJun 14, 2024

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Tendo sido anunciado em 2018, com um trailer de poucos segundos mostrando apenas paisagens completamente genéricas, The Elder Scrolls VI aparenta ter sido revelado pela Bethesda apenas como um “calma ai galera que um dia vai vir” muito mal disfarçado. Seis anos depois, mais nenhuma informação foi revelada, e o jogo continua cercado de mistério mais de doze anos após o lançamento de The Elder Scrolls V: Skyrim. Meu objetivo aqui é demonstrar de certa forma uma reflexão que eu fiz, que toda essa demora e falta de informações, além de ser uma janela que nos ajuda a entender a confusa relação dos grandes estúdios com o desenvolvimento de jogos AAA (de orçamento elevado) atualmente, nos permite colocar em cheque as expectativas criadas em volta do game. Pessoalmente, eu chego a conclusão que não importa o quanto TES VI demore, o jogo inevitavelmente será recepcionado com um alto grau de decepção por parte dos fãs. Calma lá que eu explico. Vamos começar pelo porquê de Skyrim ter sido tão importante na época do seu lançamento.

O cenário do mercado de jogos eletrônicos em 2011, ano do ultimo lançamento principal da franquia, é tão diferente dos dias atuais que chega a ser chocante. Nos anos iniciais da era das DLCs e conteúdos online obrigatórios sendo ainda um tema extremamente controverso, Skyrim é a culminação de um tipo de jogo single-player, sendo o auge da formula de RPGs de ação da Bethesda. Deixando para trás sua engine utilizada em TES IV: Oblivion e Fallout 3, o estúdio estreou com Skyrim sua Creation Engine, que na época já era comparativamente arcaica quando comparada com a tecnologia de algumas outras desenvolvedoras, mas já era um grande salto em relação a antiga engine da Bethesda, a Gamebryo, de 1997. Desta forma, Skyrim inaugurava uma nova era tecnológica para sua produtora, que mesmo sendo um inicio recheado de bugs e problemas gráficos, mostrava muito potencial.

Além do aspecto técnico, TES V: Skyrim também chega ao mercado em um momento de grandes altos para a indústria. Firmemente no meio da Sétima Geração de videogames (XBOX 360, Playstation 3 e WII), o jogo se tornou um símbolo da geração. Ademais, o ano de 2011 foi extremamente receptivo à obras de fantasia, com o gênero sendo impulsionado pelo lançamento, por exemplo, de Game of Thrones pela HBO, e o crescimento de canais de YouTube e outras formas de comunicação instantânea entre os fãs desse tipo de obra. Em resumo, Skyrim veio ao mundo em um período perfeito para a sua concepção, sendo envolto de uma cultura que ignorou seus defeitos e abraçou suas qualidades e seu carisma. Inclusive, a força de TES V: Skyrim ofuscou seus antecessores, se mostrando inequivocamente maior sucesso da franquia.

Tendo isso em mente, vamos pensar sobre a nossa realidade atual em relação ao futuro lançamento de TES: VI, tendo como referencial os mesmos pontos já levantados em relação a Skyrim. Aqui temos que destacar que TES VI não será verdadeiramente a sequência direta de Skyrim, mas sim um descendente distante, muito mais parecido com Starfield (2023) ou Fallout 76 (2018), por exemplo. Eu digo isso, não apenas em um aspecto tecnológico, mas também em relação a filosofia de Design da Bethesda.

Ainda se apoiando na já jurássica Creation Engine, que em 2011 era uma novidade, em 2024 apresenta descaradamente suas limitações, como pode ser visto claramente em Starfield. Além disso, a Bethesda não conseguiu se desprender de suas lógicas de design, que a colocam em um aspecto de jogabilidade muito limitado em relação a outros grandes lançamentos no gênero de RPGs de ação.

A realidade é que quanto mais tempo passa, mais Skyrim se torna uma memória nostálgica saudosista na mente de seus fãs e, consequentemente, a expectativa em relação a TES VI aumenta. Ao mesmo tempo, a Bethesda não aparenta ter a mínima intenção de trazer uma nova engine ao projeto ou de revolucionar suas convenções de design e storytelling. Isso quer dizer que o jogo será ruim? Duvido muito, mesmo sendo lenta em se atualizar, o estúdio não costuma criar produtos verdadeiramente ruins. O que isso significa é que The Elder Scrolls VI muito dificilmente atingirá as expectativas de seus jogadores e da crítica.

Cada vez mais hoje em dia o desenvolvimento de jogos AAA se mostra mais caro, conturbado e extremamente lento. Entre Skyrim e Oblivion (TES IV), passaram-se cinco anos, e doze anos depois do lançamento do último jogo da franquia ainda não temos nem um anúncio de uma data. Isso levanta a preocupação do estúdio, como se tornou uma prática comum na indústria, querer fazer valer o seu investimento para além da compra inicial do jogo, instaurando o modelo de compras contínuas para manter sua base de jogadores ativa.

Além desses pontos já apresentados, existem diversas outras evidências de um mercado de games cada vez mais corporativo, cansado e que se mostra cada vez mais distante do seu público. Tudo isso me aponta para um lançamento conturbado para TES: VI. Espero estar errado, só o tempo verdadeiramente dirá. Até lá, seguimos criando expectativas inalcançáveis em nossas mentes nostálgicas.

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