Starfield é um jogo muito bem feito e interessante…e eu tenho zero vontade de continuar jogando.

Vander Felipe Ortiz Dos Santos
3 min readSep 28, 2023

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Starfield (2023)

Starfield é, sem dúvida, um jogo feito com extremo empenho e dedicação, uma aventura single-player imersiva e gigantesca. Obviamente o jogo possui alguns defeitos herdados dos vícios de sua desenvolvedora Bethesda, como bugs e mecânicas datadas quando comparadas com sua competição. Ainda assim, é possível dizer facilmente que Starfield é um dos melhores jogos do ano. Então por que eu perdi completamente a vontade de jogar o game depois de menos de 20 horas de gameplay?

Na minha opinião, Starfield se encontra em um meio termo entre duas jogabilidades, e muitas vezes eu me encontrei em situações frustrantes por causa dessa peculiaridade. Starfield é uma mescla entre um clássico action-RPG da Bethesda e um jogo de exploração espacial, e muitas vezes a transição entre esses dois ambientes acabam agindo em detrimento ao entretenimento do jogador.

Um dos elementos mais interessantes dos jogos da Bethesda é a possibilidade de se perder no mundo criado por eles, trazendo uma sensação real de exploração e descobrimento, e um senso de vida e organicidade ao jogo. Atravessar Skyrim à cavalo, por exemplo, e se perder em cada nova edificação descoberta é um de seus pontos mais fortes. Tal sentimento não está completamente perdido em Starfield, mas a obrigatoriedade de viajar entre um planeta e outro que a maioria das quests pedem de você acaba quebrando a espontaneidade da exploração, raramente é possível encontrar algo no jogo completamente acidentalmente.

Uma missão que em outro jogo se iniciaria com você falando com um NPC, indo até algum lugar resolver o problema dele, e retornando até o NPC, sem a necessidade de nenhuma tela de carregamento ou interrupção do gameplay, em Starfield geralmente requer que você fale com um personagem, vá até sua nave, viaje até o planeta indicado, assista a cutscene de decolagem e pouso, ande por um planeta deserto até achar a única edificação nele, e repita todo processo para retornar ao local de origem. O loop de gameplay ainda é divertido e cheio de conteúdo, mas devido a temática e ao mundo construído para esse jogo em específico, diversas camadas de telas de carregamento e tempo perdido esperando o jogo fazer suas cutscenes de decolagem/viagem/acoplagem/pouso.

Me aparenta que o conteúdo que estaria uniformemente espalhado por um único mapa em um jogo tradicional, em Starfield foi dividido entre 1000 planetas em sistemas solares diferentes. Tal fato, além dos problemas já apresentados, também faz com que cada planeta seja 99% desértico, com apenas 1 ou 2 edificações de interesse, que inclusive já estão previamente marcadas no mapa, tirando completamente a chance de descobrimento de algo importante em um planeta qualquer. Até mesmo os planetas capitais consistem em uma única cidade e algumas edificações espalhadas aleatoriamente.

Todos os elementos de exploração da fórmula clássica da Bethesda sacrificados foram em prol de trazer uma forma de exploração espacial ao jogo, e ai um segundo problema se levanta. A exploração espacial em Starfield é um tanto limitada, com você não podendo ir organicamente de um local ao outro, sempre dependendo de viagens automáticas e menus. Além disso, devido a diluição dos conteúdos, diversos planetas que você visita estão completamente vazios, trazendo um sentimento de frustração ao jogador.

Tudo isso quer dizer que Starfield é um jogo ruim? Não, muito longe disso. O conteúdo do jogo é de extrema qualidade, ele só é de maior dificuldade de ser acessado do que em Fallout New Vegas, por exemplo. Jogando Starfield como uma experiência mais linear, seguindo questlines, e não se importando com os loadings constantes, o jogo é divertido e envolvente. Mas eu, como um fã do sentimento de exploração dos jogos da Bethesda, senti falta de poder me perder livremente no mundo.

Penso que uma solução para esses problemas seria, ao invés de trazer no jogo mais de 1000 planetas e sistemas solares distantes, focar em apenas um ou dois sistemas, com planetas mais recheados de conteúdo e completamente exploráveis, tornando também as viagens interestelares mais intuitivas e especiais, não uma obrigatoriedade que acaba se tornando tediosa.

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