POST MORTEM: Em defesa do Nintendo Wii U

Vander Felipe Ortiz Dos Santos
4 min readJan 19, 2023

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Ilustrado acima: Um cadáver

Lançado em novembro de 2012, o Nintendo Wii U é uma das maiores histórias de fracasso dentro da indústria dos jogos nas últimas décadas, e uma mancha no histórico de consoles de mesa da gigante japonesa. Tendo sido uma das poucas pessoas a terem um, eu tenho uma posição muito rara e pouco desejável: tentar apresentar uma visão positiva do filho fracassado do famoso Wii (2006).

Mas primeiramente, vamos evidenciar os (vários) motivos do fracasso da plataforma. O mais óbvio deles é o nome e o marketing terrivelmente construído no seu período de relevância. Lançado entre o fim da sétima geração de consoles (2005–2013) e o início de fato da oitava geração com o PS4 e o XONE, o Wii U já começava sua vida em uma situação difícil, explicar ao público leigo que ele não era apenas um adereço ao Wii original, e um console novo. Além da confusão gerada dentro do público casual, o Wii U desagradou também os mais familiarizados e entusiastas, apresentando um hardware francamente anêmico para 2012, um preço bastante salgado e uma campanha publicitária completamente voltada ao público infantil e familiar, estabelecendo aos olhos do público mais nichado uma visão de “cafoniçe” que envolvia o console.

O esperado aconteceu, abandonado pelas desenvolvedoras third-party ainda em seu primeiro ano, o Wii U patinou pesadamente nas vendas, não alcançando 14 milhões até o fim de sua vida útil, menos de 15% das vendas de seu antecessor, e tendo sua biblioteca de jogos posteriormente canibalizada pela Nintendo, com seus maiores sucessos sendo relançados no Switch (2017)

Jogos originalmente lançados para o Wii U, agora com versões no Nintendo Switch

Agora, cabe a mim dizer que, apesar de todos os problemas e questionamentos, a minha experiência com o Wii U foi muito satisfatória e divertida. Trazendo uma UI simples, um gamepad extremamente confortável e ergonômico, e uma seleção de jogos que em muito superava os lançamentos da oitava geração em alguns períodos, o console da Nintendo apresentava abaixo de sua casca de fracassos uma máquina muito bem construída, super polída e confiável.

Tendo que se virar sozinha após as outras desenvolvedoras abandonarem o navio, a Nintendo não poupou esforços para trazer, em muitos casos, o melhor game de suas famosas franquias, e criando ao longo do caminho novos personagens e jogos originais. Um bom exemplo disso é o próprio The Legend of Zelda Breath of the Wild (2017), o último grande lançamento do console, que nasceu juntamente com o Nintendo Switch, mas que fora originalmente pensado como um exclusivo ao Wii U.

A versão original de BOTW, comumente esquecida

Outros bons exemplos da biblioteca de jogos do Wii U são a ressureição de franquias a muito tempo congeladas, como Pikmin e até mesmo Bayonetta, que teve um segundo jogo devido ao investimento pesado da Nintendo. Mario Kart 8, Super Smash Bros for Wii U, Xenoblade Chronicles X, Donkey Kong Country Tropical Freeze, dentre outros, foram todos jogos que renovaram suas franquias, sendo até hoje o esquema que inspira seus sucessores. Splatoon e Super Mario Maker, jogos que se popularizariam com suas sequências no Switch posteriormente, foram originalmente idealizados para o Wii U, tendo em mente seu gamepad como elemento constituinte de seu gameplay.

O prinicipal ponto que eu gostaria de apresentar aqui é que os problemas do Wii U foram todos de um cunho econômico e de má compreensão do mercado, nunca uma falta de qualidade do console em si ou de seus jogos, um fato que é constantemente confundido atualmente quando se fala do assunto. Esta afirmação é constatada ao analisarmos o Nintendo Switch e seu sucesso. Um claro irmão escondido de seu predecessor, o mais novo console da Nintendo é igualmente fraco em quesitos técnicos quando comparado ao seus competidores, divide muitos dos jogos do Wii U, e tem até mesmo uma aparencia similar. Qual a grande inovação do Switch? Ele soube refinar as ideias má apresentadas durante a vida do Wii U, e fez uma campanha de marketing exemplar, tornando suas qualidades e vantagens óbvias a qualquer um que quisesse observar. O sucesso do Switch é, em grande parte, um resultado do caminho trilhado por seu predecessor, tanto em seus erros quanto acertos.

Realmente espero que no futuro o Nintendo Wii U possa ser visto como o que ele realmente foi, uma grande oportunidade perdida e um bom console que não fora apreciado, e não apenas como o fracasso mercadológico que ele foi. Acredito que assim como eu, todos os outros 5 donos de Wii U podem atestar suas qualidades.

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